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A Ilusão do Tempo

O último Exame de Ordem, de nº XXIII, que habilita o bacharel em Direito a exercer a advocacia teve seu maior índice de reprovação – 86,65%.

Esse resultado é exemplificativo de como atualmente o tempo é mal administrado.

Há inúmeras pessoas que ressaltam a importância do tempo, e, quase de forma uníssona alertam para seu ritmo. O futuro parece distante, mas o tempo certamente nos levará até lá.

Lulu Santos nos diz que “hoje o tempo voa”, enquanto Cazuza lembra que “o tempo não pára”. Maria Gadú também coloca o tempo numa de suas músicas.

A importância do tempo não é invenção ou ideia humana. Eclesiastes 3, alerta que existe tempo para todas as coisas, repito, todas as coisas!

Uma vez chegada à conclusão de que o tempo é fator importante, observamos que nos dias atuais o tempo possui um valor mal percebido.

Não há espera que valha a pena.”

“A demora é um desperdício.”

“Perdi 3 horas estudando hoje.”

As frases acima são gritadas pelo senso comum.

Temos tanta informação disponível que nossa sociedade denominou este tempo de “a era da informação”, elegendo como uma de suas principais características a velocidade da informação.

Talvez, ante esta introdução, dá-se a perceber que o tempo tem sido tão valorizado que não é permitido seu desperdício.

Errado!

Voltando ao tema inicial deste artigo, aqueles que desejam um dia se tornar advogado(a) ingressam numa longa e exaustiva jornada de estudos e preparação. São 5 anos de universidade, depois um monstro chamado popularmente de prova da OAB, e, até final da carreira, longos e longos anos de cursos de atualização.

O Exame da Ordem, este mesmo que teve índice menor que 14% de aprovação é desafio conhecido por todos que o prestaram ao menos 5 anos antes de o fazê-lo.

Ora, dada a importância desta prova e o tempo para preparação o que faz tantas pessoas não atingirem o mínimo de 50% de acerto exigido pela OAB?

De forma geral, a noção do tempo tem sido a vilã.

Vivemos a ilusão do tempo. Estamos na era em que o tempo mais importante é o tempo imediato.

A ideia de prestar uma prova em 5 anos soa tão distante que parece bobagem se preparar desde já. Com o intuito de não desperdiçar o tempo, o desperdiçamos.

Gasta-se 5 anos numa faculdade para a partir de então voltar os olhos para o monstro da prova da OAB.

Não resta dúvidas de que as coisas acontecem mais rápidas hoje do que há duas décadas atrás. Porém, não existe sucesso imediato. O sucesso ainda não acompanha a velocidade da informação.

Uma frase que levo é que “todo sucesso instantâneo demorou no mínimo 20 anos para acontecer”.

Na era da informação, nos tempos em que obter conhecimento é muito mais fácil, é no mínimo contraditório que cada vez menos bacharéis em Direito consigam a aprovação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

O Exame fará parte da carreira de qualquer advogado. É requisito. E para que deixe de ser o monstro que hoje tem sido, o que se deve fazer é não desperdiçar o tempo que se tem.

Numa singela opinião, o principal fator do pior índice de aprovação no Exame da Ordem foi a ilusão do tempo.

Anderson Oliveira Andrioli, advogado.

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